RECUPERAÇÃO DE ESPAÇO BIOLÓGICO COM FINALIDADE ENDODÔNTICA E RESTAURADORA
Orientador:
Prof. Dr. João Nilton Lopes de Sousa
Alunos responsáveis pelo caso:
Prof. Dr. João Nilton Lopes de Sousa
Alunos responsáveis pelo caso:
Ana
Amélia Barros Jacinto
Danilo de
Almeida Tenório
Diego
Silveira de Oliveira
“A distância biológica ou espaço biológico é uma
entidade anatômica que representa a distância compreendida entre a margem
gengival e a crista óssea alveolar com uma dimensão média de 3 mm” (SCHUETZLER, 2009).O periodonto, quando sadio, apresenta uma distância biológica
que compreende o espaço entre a base do sulco gengival histológico e a crista
óssea alveolar. A existência dessa distância é fundamental para a aderência do
epitélio juncional e a inserção de fibras conjuntivas da gengiva, à estrutura
dentária. Essa distância deve ser respeitada durante os procedimentos
restauradores (MAYNARD e WILSON, 1979; NEVINS, 1982; PALOMO e KOPCZYK, 1978;
SIVERS e JOHNSON, 1985; WAGENBERG et al., 1989).
Cáries com extensão
subgengival e fraturas radiculares são situações clínicas que dificultam a
realização de procedimentos restauradores dentro dos padrões técnicos. Com
isso, muitas vezes são necessárias intervenções cirúrgicas periodontais para
viabilizar os procedimentos restauradores, como o aumento da coroa clínica associada
ao procedimento de osteotomia e osteoplastia (FERREIRA JUNIOR; REIS; BARBOZA,
2013), que é a Recuperação do Espaço Biológico.
Relato do caso clínico
Y.C.G.A, um paciente do gênero masculino, sem alterações sistêmicas,
19 anos, compareceu ao Projeto de Extensão em
Periodontia Clinica e Cirúrgica da UFCG após a orientação de sua endodontista
para a realização de uma recuperação de espaço biológico no elemento 46, visto
que a parede lingual, mesial e distal (Figura 01) do mesmo estavam
completamente subgengival, onde foi constatado que o espaço biológico fora
invadido impossibilitando o uso do grampo durante o isolamento absoluto e
consequentemente impedindo a realização da endodontia e posterior restauração
do elemento. Pode ser observado ainda na radiografia (Figura
01), que o elemento está com a coroa completamente destruída e que apresenta
lesão periapical,indicando portanto a necessidade do tratamento endodôntico.
Figura
01- Aspectos radiográficos do elemento 46
Após os exames
iniciais, indicou-se gengivectomia em bisel da distal do elemento 45 a mesial
do elemento 47,tanto por vestibular quanto por lingual e logo após osteotomia
na região distal, mesial e lingual do elemento 46, com o objetivo de recuperar
o espaço biológico e possibilitando portanto a endodontia do elemento.
Cuidados
pré-operatórios: antissepsia extra-oral com digluconato de clorexidina a 2% da
marca FGM e bochecho com solução de digluconato de
clorexidina 0,12% da marca Rioquímica, para antissepsia intra-oral. Após o preparo do campo operatório, foi feita anestesia
local do nervo alveolar inferior e do nervo lingual.
Realizou-se a
demarcação de pontos sangrantes e incisão em bisel interno envolvendo os
elementos 45, 46 e 47, tanto por vestibular (Figura 02), quanto por lingual, a
fim de remover todo tecido gengival em excesso e fornecer acesso a região
óssea, utilizando a lâmina de bisturi 15C.
Figura
02- Incisão em bisel interno por vestibular
Todo o excesso de
gengiva foi removido (Figura 03) com a cureta gracey 7-8 após incisão
intrassulcular com bisturi nº15C e remoção de tecido interproximal com o
bisturi de Orban, utilizando-se ainda de curetas cirúrgicas para remoção de
tecido de granulação, restos de tecido e cálculos subgengivais.
Figura
03- Aspecto imediato após a gengivectomia
Após a gengivectomia, foi utilizado o sindesmótomo de Molt para a
exposição da margem óssea a ser trabalhada,ainda se fez uso de uma broca diamantada
cirúrgica esférica de haste longa para osteotomia e osteoplastia para
remoção de irregularidades e excessos ósseos, assim como o aplainamento de toda
a margem óssea circunjacente ao elemento 46 (Figura 04). A remoção óssea também
seguiu passos manuais com o apoio do cinzel cirúrgico. A osteotomia prosseguiu
até atingir a distância de 3mm (Figura 05) entre a margem mais apical da coroa
e a crista óssea, o espaço recomendado para este tipo de procedimento devido a
similaridade das distâncias entre os elementos e a recuperação das fibras no
pós-operatório.
Figura
04- Uso da broca esférica de haste longa para remoção óssea
Figura 05- Uso da
sonda periodontal milimetrada para medir os 3 mm
O procedimento
finalizou-se com a lavagem copiosa da região com soro fisiológico e posterior
sutura da região trabalhada (Figura 06).
Figura 06- Sutura
Na tentativa de
minimizar o desconforto no pós-operatório realizou-se a aplicação do laser de
baixa potência (Figura 07) nos elementos já referidos, valendo-se de 3 pontos
em cada elemento (mesial, vestibular/palatino, distal), nas faces lingual e
vestibular, tendo como protocolo: comprimento de onda = 808nm; potência =
100mw; tempo = 32s; dose = 105 j/cm²).
Figura 07-Aplicação de
laser
Como protocolo
pós-operatório, foi prescrito para o paciente bochechos com digluconato de
clorexidina a 0,12% duas vezes ao dia durante 15 dias, além da prescrição de
paracetamol 750mg 6/6h, durante 3 dias, somente em caso de dor.
O paciente retornou
para remoção da sutura após 07 dias da realização do procedimento cirúrgico
(Figura 08) e para reavaliação após 21
dias (Figura 09). Foi realizada uma nova tomada radiográfica 07 dias após a
cirurgia (Figura 10), onde é constatado o reparo ósseo, é observado também que
ainda há a lesão periapical, uma vez que o paciente não retornou ao
endodontista para dar continuidade ao tratamento.
Figura 08- Reavaliação
de 07 dias
Figura 09- Reavaliação
de 21 dias
Figura 10- Aspecto
radiográfico após 07 dias
No retorno do
pós-operatório o paciente relatou um mínimo desconforto nos primeiros dias após
a cirurgia, porém o própria informou que não houve a necessidade da medicação
prescrita como analgésica, sendo assim, o laser de baixa potência aplicado
imediatamente após o procedimento cirúrgico foi bem utilizado, diminuindo a
dosagem de analgésico ingerido.
O paciente evoluiu
bem durante o pós-operatório, concluindo-se quando o procedimento é bem
indicado e todas as etapas são realizadas de maneira cautelosa, estando ciente
da dinamicidade dos tecidos da cavidade oral, conseguimos atingir um sucesso
clínico, apesar dos riscos.
REFERÊNCIAS:
SCHUETZLER,
Larissa. Correção da invasão de espaço
biológico em região anterior:Tracionamento ortodôntico ou cirurgia de
aumento de coroa clinica. Trabalho de conclusão (Especialização) — Curso de
especialização em Periodontia, Universidade Federal de Santa Catarina,
Florianópolis. 2008.
MAYNARD JR.,
J. G.; WILSON, R. D. K. Physiologic dimensions of the periodontium significant
to restorative dentist. J. Periodontol., v. 50, n. 4, p.170-
174, Apr. 1979.
NEVINS, M.
Interproximal periodontal disease: the embrasure as an etiologic factor. Int.
J. Periodont. Res.,v. 2, n. 6, p. 8-27, 1982.
PALOMO, F.; KOPCZYK, R.
Rationale and methods for crown lengthening. J. Am. Dent. Assoc., v. 96, n. 2,
p. 257-60, Feb. 1978.
SIVERS, J. E.; JOHNSON,
G. K. Periodontal and restorative considerationsfor crown
lengthening.Quintessence Int., v. 16, n. 12, p. 833-836, Dec. 1985.
WAGENBERG,
B. D.; ESKOW, R. N.; LANGER, B. Exposing adequate toothstructure for
restorative dentistry.Int. J. Periodont. Res.,v. 9, n. 5, p. 322-331,1989.
FERREIRA JUNIOR, C. D.; REIS, M. M. G. C.;
BARBOZA, E. S. P. Recuperação do espaço biológico: uma discussão das medidas
utilizadas nas cirurgias de aumento de coroa clínica com osteotomia. RGO – Ver
Gaúcha Odontol., Porto Alegre, v.61, suplemento 0, p. 519-522, jul./dez.,2013.
Comentários
Postar um comentário