Aumento de Coroa Clínica associada à Osteotomia e Osteoplastia em paciente com Amelogênse Imperfeita

Orientador: 
Prof. Dr. João Nilton Lopes de Sousa
Alunos responsáveis pelo caso:
Diego Silveira de Oliveira
Luana Bento Herculano
Talita Nogueira Forte Melo

A amelogênese imperfeita é uma doença de caráter hereditário que afeta o esmalte de todos os dentes, de ambas as dentições. Como não é possível realizar um tratamento preventivo nesses pacientes, devido à sua origem genética, o tratamento é voltado para a reabilitação estética e funcional (BUSSELI; PASCOTTO, 2009).
Em situações clínicas nas quais se observam preparos com términos subgengivais, nem sempre se consegue realizar procedimentos restauradores condizentes com o desejado pelos padrões técnicos e biológicos. Quando ocorre a invasão do espaço biológico, o organismo promove a reabsorção do tecido ósseo de sustentação para compensar o espaço perdido. Com isso, para que se obtenha êxito no tratamento restaurador, sem que ocorram prejuízos ao tecido de sustentação, a cirurgia para o aumento de coroa clínica está indicada. Os procedimentos cirúrgicos para aumento de coroa clínica compreendem a excisão de tecidos moles através de gengivectomias e/ou gengivoplastias ou remoção de tecido ósseo através de osteotomias e osteoplastias (técnicas a retalho) visando o restabelecimento do espaço biológico, compreendido pelo epitélio do sulco, epitélio juncional e inserção conjuntiva (RISSATO; TRENTIN, 2012).
É ideal que se tenha uma distância média de 3mm entre o término da restauração e a crista óssea, sendo esse o principal objetivo a ser alcançado por cirurgias periodontais que visam a recuperação das distâncias biológicas (DUARTE; LOPES, 2009). 
Relato de caso:
            Paciente H.M.C., sexo masculino, 13 anos, foi encaminhado ao projeto de extensão periodontia clínica e cirúrgica, UFCG-Patos, para realização de aumento de coroa clínica, pois necessitava realizar o tratamento endodôntico no elemento 36, onde o mesmo não possuía adaptação para o grampo (Figura 1).


Figura 1 – Aspecto clínico inicial

Feito o exame clínico, notou-se a presença de amelogênese imperfeita em todos os elementos dentários (um membro familiar também apresentava tal alteração), mordida aberta, palato ogival e respiração bucal. Sua condição periodontal apresentava gengiva hiperplasiada, placa bacteriana, cálculo e presença de sangramento a sondagem. O paciente não apresentava doença sistêmica e alergia a nenhum medicamento. Realizou-se exame radiográfico periapical (Figura 2) e foi solicitado exame hematológico pré-operatório, o qual teve resultado dentro da normalidade.  O plano de tratamento foi apresentado ao responsável pelo paciente e, o mesmo, concordou.

 Figura 2: Radiografia periapical dos elementos em questão

No exame clínico verificou-se que havia 7 mm de mucosa ceratinizada e uma profundidade de sondagem de 3 mm nos elementos 35 e 36. O procedimento iniciou-se com antissepsia intra-oral (digluconato de clorexidina 0,12%) e extra-oral (digluconato de clorexidina 2%), com posterior anestesia do nervo alveolar inferior e anestesia infiltrativa na mucosa vestibular e lingual com mepivacaína a 2% (Figura 3).


Figura 3: Anestesia do nervo alveolar inferior e anestesia infiltrativa da mucosa vestibular e lingual

Realizou-se a demarcação de pontos sangrantes envolvendo os elementos 35 e 36 por vestibular e por lingual, a fim de remover todo tecido gengival em excesso (3mm) e fornecer acesso a região óssea (Figura 4 e 5).

Figura 4: Demarcação dos pontos sangrantes por vestibular


Figura 5: Demarcação dos pontos sangrantes por lingual

Foi feita remoção do tecido gengival pela técnica do bisel interno com lâmina de bisturi nº 15c (Figura 6).


Figura 6: Remoção do tecido gengival pela técnica do bisel interno

Após sindesmotomia dos tecidos adjacentes aos elementos 35 e 36 com o sindesmótomo de Molt e exposição da margem óssea a ser trabalhada, utilizou-se uma broca diamantada cirúrgica esférica de haste longa para osteotomia e osteoplastia para a remoção de irregularidades e excessos ósseos, assim como o aplainamento de toda a margem óssea circunjacente aos elementos. A remoção óssea prosseguiu até atingir a junção cemento-esmalte, expondo o colo do dente, possibilitando a adaptação do grampo para o tratamento endodôntico do elemento 36 (Figura 7).


Figura 7: Osteotomia e Osteoplastia com broca diamantada de haste longa

Foi feita a lavagem copiosa da região com soro fisiológico e posterior sutura da região trabalhada com fio de seda 5.0 (polysuture), de modo a posicionar a margem gengival ao nível da junção amelocementária, proporcionando assim um novo contorno gengival (Figura 8).


Figura 8: Sutura da região trabalhada com fio de seda 5.0

Na tentativa de minimizar o desconforto no pós-operatório realizou-se a aplicação do laser de baixa potência nos elementos já referidos, valendo-se de 3 pontos em cada elemento (mesial, vestibular/lingual, distal), nas faces vestibular e lingual, tendo como protocolo: comprimento de onda = 808nm; potência = 100mw; tempo = 32s; dose = 105 j/cm²) (Figura 9).


Figura 9: Aplicação de laser de baixa potência

Como protocolo pós-operatório, foi prescrito para o paciente bochechos com digluconato de clorexidina a 0,12% duas vezes ao dia durante 15 dias, além da prescrição de dipirona 500mg 6/6h, durante 3 dias, somente em caso de dor.
O paciente retornou para reavaliação pós-operatória e remoção da sutura após 07 dias da realização do procedimento cirúrgico inicial, relatando ausência de dor (Figura 10 e 11).


Figura 10: Aspecto clínico em um pós-operatório de sete dias


Figura 11: Aspecto clínico em um pós-operatório de sete dias, após remoção de sutura

Com o aspecto final do caso, conclui-se que o aumento de coroa clínica, associado à osteotomia e osteoplastia se mostrou indispensável para que pudesse ser feito o tratamento endodôntico, possibilitando assim, a correta adaptação do grampo no elemento em questão, proporcionando um resultado satisfatório.
O laser de baixa intensidade demonstrou-se uma terapia efetiva, reduzindo a necessidade da ingestão de medicamento e ajudando na cicatrização da cirurgia.
O paciente continua em tratamento periodontal, endodôntico, estético e ortodôntico.

Referências Bibliográficas:
BUSSELI, Juliano da Silva; PASCOTTO, Renata Corrêa. Reabilitação estética e funcional de um caso de amelogênese imperfeita. Revista Dental Press de Estética, -, v. 1, n. 6, p.44-45, jan/mar 2009.
RISSATO, Marcos; TRENTIN, Micheline Sandini. Aumento de coroa clínica para restabelecimento das distâncias biológicas com finalidade restauradora – revisão da literatura. RFO, Passo Fundo, v. 17, n. 2, p. 234-239, maio/ago. 2012
DUARTE, C. A.; LOPES, J.C.A. Cirurgia periodontal pré-protética. In: Cirurgia periodontal: pré-protética, estética e peri-implantar. 3. ed. São Paulo (SP): Santos, p.309- 355, 2009.

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