Aumento de coroa clínica com osteotomia para restabelecimento das distâncias biológicas com finalidade restauradora e protética


Orientador:
Prof. Dr. João Nilton Lopes de Sousa 
Alunos responsáveis pelo caso:
Emiliano Crisóstomo Delfino de Brito 
Rafaela Simão de Abrantes
Winilya de Abreu Alves


Algumas condições clínicas como cárie, fraturas, coroas curtas ou destruídas, requerem a realização da cirurgia periodontal de aumento de coroa clínica a fim de obter a manutenção das distâncias biológicas dos tecidos gengivais supracrestais, essencial para saúde periodontal. O espaço biológico equivale à distância em direção coronária à crista óssea alveolar, correspondendo a aproximadamente 3 mm. Essa distância é fundamental para a aderência dos componentes gengivais à estrutura dentária. Caso haja invasão desse espaço, a reação inflamatória dos tecidos promove reabsorção óssea e formação de bolsas periodontais, podendo chegar a comprometer tratamentos restauradores e/ou protéticos (MATOS, et al. 2009; RISSATO; TRENTIN, 2012).
Dessa forma, a cirurgia de aumento de coroa com osteotomia proposta ao caso, auxilia o tratamento restaurador adequado, além de promover a exposição de estrutura dentária suficiente para proporcionar retenção, resistência e estabilidade à prótese parcial removível, sem agredir os tecidos periodontais.


Relato de caso clínico 

O paciente J.R.M., 62 anos, gênero masculino, foi encaminhado à clínica de extensão em Periodontia pela clínica de endodontia da Universidade Federal de Campina Grande para avaliação do elemento 14, o qual apresentava tratamento endodôntico, além de servir como pilar para prótese parcial removível. Na anamnese, e após análise do exames médicos solicitados, o paciente mostrou boas condições sistêmicas. No exame clínico, observou-se extensa destruição coronária, presença de restauração provisória, com nítida visualização de invasão do espaço biológico. O exame radiográfico revelou a distância entre a margem do elemento dental e a crista óssea, sugerindo invasão das distâncias biológicas. Dessa forma, para promover a recuperação do espaço biológico, foi indicado a cirurgia de aumento de coroa clínica com osteotomia. 

 Figura-1: Aspecto clínico inicial


Iniciou-se o procedimento com antissepsia intra-oral (digluconato de clorexidina 0,12%) e extra oral (digluconato de clorexidina 2%) com posterior anestesia infiltrativa com mepivacaína a 2%, em fundo de sulco e por palatina, além da região papilar. Após isso, foi feita a demarcação dos pontos sangrantes envolvendo os elementos 13 e 14, seguida da remoção do tecido gengival pela técnica do bisel interno com lâmina de bisturi nº 15 e gengivótomo de Kirkland. A remoção do tecido interproximal foi feita com o auxílio de um gengivótomo de Orban. Foi realizada ainda uma incisão triangular, de acordo com a técnica de cunha distal, na distal do elemento 14 (Figuras-2 e 3). 


 Figura-2: Incisão, após demarcação dos pontos, englobando os elementos 13 e 14.


 Figura-3: Remoção do tecido com gengivótomo de Orban 


Os tecidos adjacentes ao elemento dental foram, então, deslocados com o sindesmótomo de Molt expondo o tecido ósseo subjacente. Com o uso de uma broca diamantada cirúrgica esférica, foi realizada osteotomia na região interproximal distal e mesial do elemento 14, bem como osteoplastia da margem óssea circunjacente ao mesmo elemento. A remoção óssea prosseguiu até atingir a distância de 3mm entre a margem mais apical da restauração e a crista óssea, sempre verificada com o uso da sonda periodontal de Williams (Figuras-4 e 5).


 Figura-4: Verificação da distância da margem do dente ao osso com sonda periodontal de Williams.


 Figura-5: Remoção de tecido ósseo a fim de obter a distância de 3 mm da margem do dente ao osso.

Por fim, foi feita lavagem copiosa da região com soro fisiológico e posterior sutura da região (Figura-6).


 Figura-6: Sutura para coaptação dos tecidos na distal do elemento 14 e interproximal do mesmo elemento. 

Foi empregado, ainda, o laser de baixa potência a fim de reduzir o desconforto pós operatório, por meio da aplicação em três pontos (mesial, vestibular / palatino e distal) para cada elemento, cujo protocolo segue-se: comprimento de onda = 808nm; potência = 100mw; tempo = 32s; dose = 105 j/cm²) (Figura 7). A prescrição feita ao paciente foi de bochechos com digluconato de clorexidina a 0,12% duas vezes ao dia durante 15 dias, além da prescrição de paracetamol 750mg 6/6h, durante 3 dias, somente em caso de dor.


 Figura-7: Aplicação do laser de baixa potência.

Após o período de sete dias, foi removida a sutura (Figura-8). O paciente relatou ausência de dor, não havendo necessidade de fazer uso da medicação prescrita. Fica evidente a eficácia do laser de baixa potência de aplicação imediata após a cirurgia, tornando dispensável o uso de analgésico.

Figura-8: Aspecto clínico em um pós operatório de sete dias.


A longevidade dos procedimentos restauradores e protéticos depende do planejamento adequado do tratamento e da compatibilidade entre as margens da restauração e os tecidos periodontais adjacentes. 
Verifica-se, portanto, que o procedimento cirúrgico para o restabelecimento da distância biológica foi efetivo, ao passo que foram restituídas as características biológicas normais dos tecidos periodontais, viabilizando a continuação do tratamento restaurador, respeitando a integridade dos tecidos e contribuindo para um tratamento protético e restaurador mais duradouro.
O laser de baixa intensidade demonstrou-se uma terapia efetiva, reduzindo a necessidade da ingestão de medicamento e ajudando na cicatrização da cirurgia.


Referências bibliográficas:

MATOS, Gardênia; NOGUEIRA, Débora Kizrner; RIBEIRO, Luise Campos Galvão; ANDRADE, Luciano de Miranda; MASCARENHAS, Tarcísio Carneiro Mascarenhas; BARBOSA, Luciano de Castellicci.Recuperação de espaço biológico para PPF: tracionamento ortodôntico ou aumento de coroa clínica? Rev. fac. odontol. Univ. Fed. Bahia, v.39, p.53-62, 2009.

RISSATO, Marcos; TRENTIN, Micheline Sandini. Aumento de coroa clínica para restabelecimento das distâncias biológicas com finalidade restauradora – revisão da literatura. RFO, Passo Fundo, v. 17, n. 2, p. 234-239, maio/ago 2012.



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