Frenectomia labial superior associada a enxerto gengival livre
Orientador:
Prof. Dr. João Nilton Lopes de Sousa
Prof. Dr. João Nilton Lopes de Sousa
Alunos
responsáveis pelo caso:
Basílio
Rodrigues Vieira
Esther
Carneiro Ribeiro
Moan Jéfter
Fernandes Costa
INTRODUÇÃO
A
dobra da membrana mucosa, que conecta o lábio ao processo alveolar da maxila, é
conhecido como freio labial. É formado por tecido conjuntivo denso e fibras
elásticas, geralmente contendo fibras musculares. São importantes no
desencadeamento de recessões gengivais, limitações dos movimentos do lábio, diastemas
e problemas estéticos (LOPES et al., 2014).
O
freio labial ocorre fisiologicamente em todos os pacientes, porém as
implicações decorrem da sua inserção inadequada, ou seja, a extensão por entre
os incisivos centrais superiores que aumentam o espaço interdentário e
desfavorecem a harmonia do sorriso, assim como a harmonia do conjunto
dentofacial, contribuem negativamente no bem-estar social do paciente, tendo em
vista que os aspectos estéticos atuais requerem um sorriso esteticamente
alinhado, sem espaços ou apinhamentos para os indivíduos serem bem aceitos em âmbitos
sociais (ALMEIDA et al., 2004).
A
frenectomia convencional consiste em exérese completa do tecido componente do
freio labial, assim como o tecido interdental e a papila palatina, a fim de que
não se prendam fibras residuais e atuem no processo de recidiva do caso. Muitas
vezes ocorrem situações estéticas desfavoráveis após a frenectomia labial
devido as características do tecido, por conta disso o enxerto gengival livre
pode ser associado no intuito de melhorar os resultados da remoção do freio.
Apesar do enxerto gengival livre não ser indicado em situações onde o
requerimento estético é primordial, ele é bem indicado e tem resultados
bastante previsíveis quando associado a frenectomias labiais (FILHO et al.,
2005).
Dessa forma, o
objetivo desse trabalho é relatar um caso de frenectomia labial superior como
tratamento inicial para o fechamento de diastemas interincisivos, associado a
um enxerto gengival livre como auxiliar estético e preventivo de recidiva do
caso.
RELATO DO CASO
Paciente R.C., 28 anos, gênero
feminino, compareceu a clínica de extensão em Periodontia da Universidade
Federal de Campina Grande com queixa estética relacionada ao diastema
interincisivos centrais superiores (11 e 21), além de um encaminhamento do
ortodontista indicando a técnica da frenectomia labial como procedimento
anterior ao tratamento ortodôntico.
A paciente não apresentava nenhuma
condição intra ou extra-oral digna de nota após a anamnese completa, estando
com boa saúde periodontal e livre de outras condições associadas a algum
elemento dental. A sondagem periodontal dos elementos dentários revelou saúde
periodontal sem a presença de bolsas ou sangramento gengival, dessa forma, após
avaliação clínica criteriosa da região correspondente ao freio labial, foi
confirmado o procedimento cirúrgico a ser adotado para a paciente: frenectomia
labial. Ainda como auxiliar do tratamento e preventivo de recidiva do caso,
optou-se por fazer um enxerto gengival livre na região de exérese tecidual do
freio.
Na avaliação inicial (Figura 1) percebeu-se um freio
labial extremamente exuberante, com três pregas mucosas, sendo bastante
volumoso.
FIGURA 1 - Aspecto inicial do freio labial.
O procedimento
iniciou-se com antissepsia intra-oral (digluconato de clorexidina 0,12%) e extra-oral
(digluconato de clorexidina 2%), com posterior anestesia infiltrativa com
mepivacaína a 2% em regiões distante da linha média para não haver inchaço
provocado pelo anestésico e não perder as dimensões normais do freio labial, o
que ocasionaria remoção de tecido em excesso (Figura 2). A anestesia
ocorreu tanto por vestibular, quanto por palatina, na papila incisiva.
FIGURA 2 - Anestesia.
Feito
isso, foi realizada o pinçamento de toda a área a ser excisada com pinça curva
(Figura 3). Foi realizada uma incisão com bisturi número 15c adaptado a um cabo
paralelo ao mordente da pinça, realizando a incisão completa, até o final da
ponta ativa da pinça (Figura 4).
FIGURA 3 - Pinçamento do tecido a ser excisado.
FIGURA 4 - Incisão inicial do freio labial.
Após incisão inicial foi realizada a sutura do lábio, na região excisada
com fio de nylon 5.0 (Figura 5) auxiliando na hemostasia da área e facilitando
as etapas seguintes da realização do procedimento cirúrgico.
FIGURA 5 - Sutura do lábio.
O
procedimento teve continuação com a frenestração, que é o momento em que se
desinserem todas as fibras restantes no intuito de evitar recidivas. O
procedimento consiste na remoção das fibras, desinserindo-as com bisturi em 45º
até tocar no osso (Figura 6).
FIGURA 6 - Fenestração.
Ainda
com a pinça em posição, foi realizada a remoção de todo o tecidofibroso do
freio labial que ficava sobre a mucosa ceratinizada da paciente (Figura 7),
culminando com a sutura completa da região de tecido removida (figura 8),
deixando uma faixa de tecido sem sutura, que seria a região receptora do
enxerto gengival livre proposto no planejamento do caso.
FIGURA 7 - Remoção de tecido.
FIGURA 8 - Sutura.
Para o enxerto gengival livre, confeccionou-se um pequeno molde
triangular (em papel estéril) de formato semelhante a região receptora (Figura
9).
FIGURA 9 - Molde do enxerto na região receptora.
A
região escolhida como doadora foi a região de pré-molares, entre os dentes 14 e
15, por ser uma região mais pra posterior com uma boa faixa de tecido a ser
excisado e que não traria problemas de desconforto para a paciente no
pós-operatório ou estéticos em situações futuras. O molde preparado foi então
utilizado nessa região para corte do tecido nas dimensões exatas da área
receptora, após preparo e anestesia infiltrativa da área (Figura 10).
FIGURA 10 - Molde e corte do tecido da área doadora.
O tecido excisado foi então mantido em soro estéril até o momento de sua
inserção (Figura 11), enquanto realizou-se a sutura da região doadora para
facilitar a hemostasia e o processo de cicatrização (Figura 12).
FIGURA 11 - Armazenamento do tecido excisado em soro estéril.
FIGURA 12 - Sutura da região doadora.
Antes da adaptação do enxerto na região receptora, foi realizado um
pequeno ajuste com tesoura removendo os excessos de tecido presentes na região
receptora (Figura 13).
FIGURA 13 - Ajustes na área receptora.
O
tecido excisado foi então levado até a área receptora para confirmação do
tamanho e adaptação da peça (Figura 14), culminando com a sutura completa do
enxerto na região selecionada (Figura 15).
FIGURA 14 - Adaptação do enxerto.
FIGURA 15 - Sutura do enxerto na área receptora.
O tecido interdental e parte da papila incisiva (região final de
inserção do freio labial) foram removidos com cabo de bisturi para demarcação
da região e posterior pinçamento com pinça curva, auxiliando na exérese,
inclinando-o até remoção completa de todo o tecido presente (Figura 16),
culminando com a sutura da região.
FIGURA 16 - Pinçamento e exérese do tecido palatino.
O procedimento finalizou-se com a aplicação
de laser de baixa potência em vários pontos ao redor de toda a região onde
antes correspondia ao freio labial, além das áreas receptoras e doadoras do
enxerto gengival livre (Figuras17), na tentativa de minimizar o
desconforto no pós-operatório e acelerar o processo de cicatrização. O
protocolo de laser utilizado foi: comprimento de onda = 808nm; potência =
100mw; tempo = 32s; dose = 105 j/cm²). Como proteção da região trabalhada,
optou-se pelo uso do cimento cirúrgico na paciente (Figura 18).
FIGURA 17 - Aplicação do laser de baixa potência.
FIGURA 18 - Adaptação do cimento cirúrgico.
Para o pós-operatório, recomendou-se a paciente que realizasse bochechos
com digluconato de clorexidina a 0,12% duas vezes ao dia durante 15 dias, além
da prescrição de paracetamol 750mg 6/6h, durante 3 dias, somente em caso de dor,
além dos cuidados básicos de higienização.
A paciente retornou para avaliação do
pós-operatório 8 dias após o procedimento cirúrgico para remoção da sutura
relatando muitas dores e dificuldade de higienização, o que pode ser
evidenciado na figura a seguir devido a presença de grande quantidade de
biofilme presente na sutura (Figura 19). Após a remoção da sutura a área foi
limpa com gaze e soro estéril (Figura 20). A região receptora do enxerto ainda
encontrava-se bastante edemaciada.
FIGURA 19 - Pós-operatório de 8 dias.
FIGURA 20 - Região limpa após remoção da sutura.
A área da região doadora do enxerto
encontrava-se bem cicatrizada e não foi relatado nenhum tipo de desconforto por
parte da paciente nessa região (Figura 21).
FIGURA 21 - Região doadora do enxerto pós 8 dias.
Como a paciente relatou muito desconforto na
primeira semana, confirmando que havia tomado toda a medicação prescrita por
até mais tempo que o necessário para diminuir o desconforto, foi aplicado uma
nova sessão do laser de baixa potência (Figura 22) pedindo a paciente para
retornar com 15 dias para acompanhamento e uma segunda avaliação do
pós-operatório.
FIGURA 22 – Segunda aplicação do laser de baixa potência 8 dias após o procedimento cirúrgico
inicial.
21
dias após a frenectomia e o enxerto gengival livre, a paciente retornou para
uma segunda avaliação do pós-operatório, na qual foi possível analisar de forma
mais detalhada a região receptora do enxerto gengival livre (Figura 23)
e fazer outras considerações quanto ao pós-operatório. A paciente nos informou
que nas duas ultimas semanas o desconforto havia diminuído progressivamente até
zerar.
FIGURA 23 - Análise da região receptora do enxerto.
Na
região anterior notamos um aumento de volume maior que o normal por conta do
enxerto aplicado. Foi sugerido que a paciente iniciasse o tratamento
ortodôntico e retornasse para uma avaliação 3 meses após o procedimento
cirúrgico inicial para mais uma avaliação, caso ainda houvesse essa diferença
de volume entre os tecidos, seria sugerido uma gengivoplastia na região para
conformação adequada de todos os tecidos. Com relação a região doadora, esta
estava em bom estado de cicatrização, sem nenhuma marca do pós-operatório
(Figura 24).
FIGURA 24 – Análise
da região doadora 21 dias do pós-operatório.
Podemos
concluir que a frenectomia é extremamente importante para a correção de freios
exuberantes e de inserção desconforme da normalidade e quando associado ao
enxerto gengival livre em boas condições de indicação e realização da técnica,
se torna um meio eficaz para auxílio do componente estético e funcional dos
pacientes submetidos.
REFERÊNCIAS:
1.
ALMEIDA,
R. R.; GARIB, D. G.;ALMEIDA-PEDRIN, R. R.;ALMEIDA, M. R.;PINZAN, A.;JUNQUEIRA,
M. H. Z.;Diastema interincisivos centrais superiores: quando e como intervir?R Dental Press OrtodonOrtop Facial,
Maringá, v. 9, n. 3, p. 137-156, maio/jun. 2004).
2.
FILHO, G. R. N.;
BENATTI, B. B.; BITTENCOURT, S.; PERUZZO, D. C.; CASATI, M. Z.; NOCITI Jr, F.
H.;Frenectomyassociatedwithfreegingivalcraft. RGO, P. Alegre, v. 53,
n. 2, p. 85-164, abr/mai/jun 2005;
3.
Lopes, J. M. A.; Moreira, A. N.; De Almeida, R. S.; Torres, S. A. S.; Aranega, A.M.; Ponzoni, D.;
Frenectomias e frenotomias: abordagem clínica; Rev.
odontol. UNESP, vol.43, n.Especial, 2014)
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