Cirurgia Periodontal com Finalidade Estética


Orientador: 
Prof. Dr. João Nilton Lopes de Sousa
Alunos responsáveis pelo caso:
Emiliano Crisóstomo Delfino de Brito 
Rafaela Simão de Abrantes
Winilya de Abreu Alves


Apesar de os procedimentos na área de saúde não serem conduzidos pela estética, e sim pelos princípios de promoção de saúde, a mesma tornou-se um objetivo almejado por muitos pacientes que procuram os cirurgiões-dentistas. Entretanto, para alcançarmos essas metas, a opinião do paciente deve ser respeitada, visto que os conceitos de beleza variam entre os indivíduos, principalmente, entre dentistas e pacientes, isto é, profissionais e leigos. A classe odontológica, que busca resultados estéticos, muitas vezes se torna extremamente crítica e exigente, o que acaba destoando dos objetivos do paciente na busca por atendimento (PIRES; SOUZA; MENEZES, 2010).
Na Periodontia, várias técnicas cirúrgicas podem ser empregadas no tratamento odontológico com finalidade estética. Dentre elas está a gengivectomia, um procedimento cirúrgico de remodelamento plástico da gengiva para restabelecer uma forma anatômica e contorno fisiológico adequados, visando facilitar os procedimentos de higiene bucal, bem como a obtenção de uma melhor harmonia do sorriso. A gengivectomia tem sido uma alternativa às terapias estéticas, para os casos de excesso do tecido gengival em que não há presença de doença periodontal.
O presente relato de caso clínico refere-se à paciente C.S.B., sexo feminino, 36 anos, que procurou o Projeto de Extensão Periodontia Clínica e Cirúrgica da UFCG queixando-se da estética de seu sorriso. Durante a anamnese, a mesma relatou insatisfação quanto ao tamanho de seus dentes. A paciente foi submetida aos exames periodontais de rotina de canino superior esquerdo a canino superior direito (sextante 2), nos quais constatou-se profundidade de sondagem variando entre 2 e 3 mm e mucosa ceratinizada entre 5 e 7 mm.

Figura 1. Aspecto inicial

Devido às características clínicas e anatômicas do contorno gengival, foram indicadas as técnicas de gengivectomia com bisel externo e gengivoplastia, visto que a paciente apresentava profundidade de sondagem e nível de inserção adequados para o emprego de tais procedimentos cirúrgicos. Optou-se pela execução da gengivectomia apenas nos incisivos centrais e caninos, mantendo os zênites gengivais dos caninos superiores mais altos do que os incisivos laterais e aproximadamente a mesma altura dos incisivos centrais.
Após antissepsia intra e extraoral com digluconato de clorexidina a 0,12% e 2%, respectivamente, foi realizada a anestesia local infiltrativa bilateral (Mepivacaína 1:1000.000) (Fig. 2) e a determinação dos pontos sangrantes com sonda milimetrada tipo Williams. Depois de realizada a marcação dos pontos sangrantes, nos dentes 13 ao 23, foi feita uma incisão em bisel externo com lâmina de bisturi 15C, seguida de uma incisão secundária para remoção do colarinho gengival com gengivótomo de Kirland (Fig. 4). Na região interproximal, o fragmento gengival foi removido com o auxílio de gengivótomo de Orban. Após a remoção do tecido gengival, foi procedida a gengivoplastia com o próprio bisturi de Kirkland no sítio da cirurgia, com o propósito de melhorar a reparação gengival, favorecendo a estética (Fig. 6).

Figura 2. Anestesia infiltrativa da área a ser operada.


Figura 3. Sondagem e demarcação dos pontos sangrantes.


Figura 4. Incisão secundária para a remoção do tecido gengival com gengivótomo de Kirkland.


Figura 5. Incisão com lâmina de bisturi 15 C.


Figura. 6 Raspagem do tecido gengival com gengivótomo de Kirkland.


Figura 7. Resultado imediato pós-gengivoplastia.

A região foi recoberta por cimento cirúrgico, permanecendo por 3 dias (Fig 8). Foi prescrita medicação anti-inflamatória (ibuprofeno 600 mg). A paciente foi orientada sobre a higiene bucal no pós-operatório e a fazer bochechos de digluconato de clorexidina a 0,12% durante 14 dias.


Figura 8. Cimento cirúrgico aplicado sobre a área operada.

Após 15 dias, o sorriso estava estabelecido com diminuição da quantidade exposta de gengiva da área operada, não foi observada a presença de bolsas periodontais ou sangramento à sondagem e os tecidos moles do periodonto estavam com aspecto saudável (Fig. 9). A paciente foi esclarecida quanto à necessidade de cirurgia periodontal com remodelação óssea nos pré-molares superiores para a correção de seu “sorriso gengival” e disponibilizou-se a fazê-la em posterior ocasião.


Figura 9. Aspecto final após 15 dias.

Três semanas após a cirurgia, foi feita gengivectomia na região inferior, por solicitação da própria paciente, que tinha a mesma queixa quando ao comprimento dos seus dentes. Logo, decidiu-se pela mesma técnica cirúrgica, sendo gengivectomia com bisel externo, associada à gengivoplastia nos elementos 43 a 33. Os mesmos possuíam profundidade de sondagem e mucosa ceratinizada adequados para os procedimentos planejados.


Figura 10: aspecto inicial da região inferior e após a gengivectomia superior.


Assim, seguiu-se a técnica de modo semelhante ao procedimento realizado anteriormente. Foi feita antissepsia intra e extraoral com digluconato de clorexidina a 0,12% e 2%, respectivamente, seguida de anestesia local infiltrativa (Mepivacaína1:1000.000). A demarcação dos pontos para ser feita a incisão deu-se com sonda milimetrada do tipo Williams, nos elementos 43 a 33 (Fig. 11). Depois, retirou-se um colarinho de gengiva ceratizinada de, aproximadamente, 1mm nos elementos correspondentes, sendo incisão em bisel externo, usando lâmina de bisturi do tipo 15C e gengivótomo de Kirkland (Fig. 12). O gengivótomo de Orban auxiliou na remoção do tecido das áreas interproximais.


Figura 11: Demarcação dos pontos sangrantes com sonda milimetrada.


Figura 12: incisão com lâmina de bisturi 15C e após a retirada do tecido gengival.

Para dar um contorno anatômico ao tecido gengival e melhorar a reparação dos tecidos, fez-se gengivoplastia, com o bisturi de Kirkland (Fig. 13).


Figura 13: gengivoplastia com gengivótomo de Kirkland.


Figura 14: pós-operatório imediato.


Fez-se aplicação de laserterapia na região, para favorecer o conforto pós-operatório e auxiliar a cicatrização tecidual, sendo colocado em 3 pontos por elemento, durante 30seg em cada um, com comprimento de onda de 808 nm, potência 100mV e dose de 105 J/cm². A região também foi recoberta por cimento cirúrgico (Fig 15). Também foi prescrito bochecho de solução de digluconato de clorexidina a 0,12% durante 14 dias e, apenas em caso de dor, Paracetamol 750mg, durante 3 dias.

Figura 15: Aplicação do laser de baixa potência e recobrimento com cimento cirúrgico.


Uma semana após o procedimento, a paciente compareceu à clínica, apresentando ótima cicatrização do local e não tendo relatado nenhum desconforto pós-operatório, não havendo, portanto, a necessidade de tomar a medicação analgésica, além de relatar satisfação em relação à estética de seu sorriso.

Figura 16. Sorriso espontâneo da paciente, no pós-operatório de uma semana.


Logo, entende-se que os procedimentos foram concluídos com sucesso, resultando no contentamento da paciente, sendo, assim, opções eficientes para procedimentos estéticos, desde que tenha indicação adequada, bem como constatou-se eficiência da laserterapia como opção analgésica pós-operatória.



Referências Bibliográficas

PIRES, C.V.; SOUZA, C.G.L.G.; MENEZES, S.A.F. Periodontal plastic procedures in patients with gummy smile - Case Report. R. Periodontia., Belém, v.20, n.1, p. 48-53, mar. 2010.

SOUSA, C.P.; GARZON, A.C. da M.; SAMPAIO, J.E.C.. Estética periodontal: relato de um caso. RevBrasCir Periodontia 2003; 1(4):p.262-7.

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