Recuperação de Espaço Biológico como Auxiliar no Tratamento Protético
Orientador:
Prof. Dr.
João Nilton Lopes de Sousa Alunos responsáveis pelo caso:
Basílio Rodrigues
Vieira
Esther Carneiro
Ribeiro
Moan Jéfter
Fernandes Costa
Procedimentos estéticos
envolvem uma série de fatores associados a este e não apenas o procedimento
restaurador, como por exemplo, a análise periodontal do elemento a fim de não
agredir os tecidos periodontais, trazendo um resultado clínico satisfatório.
Entre os danos periodontais associados a procedimentos restauradores está a
invasão do espaço biológico. É nesse momento que a periodontia se une à dentística, com o propósito de restabelecer as características biológicas
ideais para completa homeostase da cavidade oral (CAMPOS; LOPES, 2008).
Sabendo disso, o espaço biológico
compreende o espaço entre a base do sulco gengival e a crista óssea, sendo uma
barreira própria do periodonto de sustentação, livrando-o de agressão
bacteriana e os produtos dos seus metabolismos, criando um mecanismo que seja
satisfatório à proteção do elemento dental. O comprometimento dessa barreira
fisiológica, seja por cárie, doença periodontal, fraturas ou procedimentos
restauradores, irá trazer instabilidade aos tecidos periodontais (sangramento,
inflamação constante, recessões e perda óssea), por conta disso, é
imprescindível que nenhum procedimento planejado para determinado elemento
termine por agredir a distância ou espaço biológico do elemento. Pra isso,
independente do material restaurador usado subgengivalmente, é ideal que se
tenha uma distância média de 3mm entre o término da restauração e a crista
óssea, sendo esse o principal objetivo a ser alcançado por cirurgias
periodontais que visam a recuperação das distâncias biológicas para posterior
confecção de procedimento estético (DUARTE; LOPES, 2009).
RELATO DO CASO
Paciente C.M.L., 36 anos, compareceu
a clínica de extensão em Periodontia com encaminhamento das clínicas de Prótese
da Universidade Federal de Campina Grande, para avaliação do elemento 16, que
se encontrava com grande destruição coronária e precisaria de reabilitação com coroa
fixa de porcelana (Figura 1 e 2).
Figura 1 – aspecto clínico inicial.
Figura 2 – aspecto
clínico inicial visto através de espelho bucal.
Após avaliação clínica inicial,
percebeu-se que a paciente estava no momento da consulta com uma boa qualidade
periodontal e sem nenhuma alteração digna de nota com relação aos outros
elementos dentais e estruturas adjacentes. Na radiografia percebeu-se que a
paciente estava com um certo grau de perda óssea no elemento 16, o que poderia
colocar em risco a qualidade da cirurgia com perda do elemento no transoperatório.
Figura 3 – aspecto radiográfico inicial.
Foi
relatado pela paciente que ela havia passado por um procedimento semelhante em
um outro local, 4 meses antes, porém havia ocorrido total recidiva, por isso
houve um novo encaminhamento para avaliação periodontal. Mesmo assim, indicou-se
o procedimento da recuperação de espaço biológico como o correspondente a
manutenção do tratamento da paciente.
O procedimento iniciou-se com
antissepsia intra-oral (digluconato de clorexidina 0,12%) e extra-oral
(digluconato de clorexidina 2%), com posterior anestesia infiltrativa com
mepivacaína a 2%, tanto por vestibular, quanto por palatina. Não foram
verificadas bolsas periodontais em nenhum elemento do sextante, o que
contribuiu para a continuação do procedimento cirúrgico.
Realizou-se
a demarcação de pontos sangrantes envolvendo os elementos 15, 16 e 17, tanto
por palatina, quanto por vestibular, a fim de remover todo tecido gengival em
excesso e fornecer acesso a região óssea (Figura 4 e 5).
Figura 4 – demarcação vestibular.
Figura 5 – demarcação
palatina, visto através de espelho bucal.
Removeu-se todo o excesso de gengiva
após incisão intrassulcular com bisturi nº 15 e com o auxílio de um cinzel
cirúrgico (figura 6) e remoção de tecido interproximal com o bisturi de
Orban, utilizando-se ainda de curetas cirúrgicas para remoção de tecido de
granulação, restos de tecido e cálculos subgengivais (Figura 7).
Figura 6 - remoção de tecido com auxílio de cinzel cirúrgico.
Figura 7 – remoção de
cálculo e tecido de granulação com cureta cirúrgica.
Após
sindesmotomia dos tecidos adjacentes ao elemento dental em destaque com o
sindesmótomo de Molt (Figura 8) e exposição da margem óssea a ser
trabalhada, utilizou-se de uma broca diamantada cirúrgica esférica de haste longa para osteotomia e
osteoplastia remoção de irregularidades e excessos ósseos, assim como o
aplainamento de toda a margem óssea circunjacente ao elemento 16 (Figura 9). A
remoção óssea também seguiu passos manuais com o apoio do cinzel cirúrgico
(Figura 10). A remoção óssea prosseguiu até atingir a distância de 3mm entre a
margem mais apical da restauração e a crista óssea, o espaço recomendado para
este tipo de procedimento devido a similaridade das distâncias entre os
elementos e a recuperação das fibras no pós-operatório.
Figura 8 - sindesmotomia dos tecidos adjacentes ao elemento dentário.
Figura 9 – uso de
broca esférica para remoção óssea.
O
procedimento finalizou-se com a lavagem copiosa da região com soro fisiológico
e posterior sutura da região trabalhada (Figura 11). Para diminuir as chances
de recidiva enquanto a paciente realiza o procedimento protético, realizou-se a
restauração do elemento com cimento de ionômero de vidro (Figura 11).
Na
tentativa de minimizar o desconforto no pós-operatório realizou-se a aplicação
do laser de baixa potência nos elementos já referidos, valendo-se de 3 pontos
em cada elemento (mesial, vestibular/palatino, distal), nas faces palatinas e
vestibular, tendo como protocolo: comprimento de onda = 808nm; potência =
100mw; tempo = 32s; dose = 105 j/cm²).
Como protocolo pós-operatório, foi
prescrito para a paciente bochechos com digluconato de clorexidina a 0,12% duas
vezes ao dia durante 15 dias, além da prescrição de paracetamol 750mg 6/6h,
durante 3 dias, somente em caso de dor.
Figura 11 – sutura da
região trabalhada com posterior restauração em CIV.
A
paciente retornou para reavaliação pós-operatória e remoção da sutura após 10
dias da realização do procedimento cirúrgico inicial (figura 12).
Figura 12 - pós-operatória 10 dias após a avaliação clínica inicial.
No
retorno do pós-operatório a paciente relatou um mínimo desconforto nos
primeiros dias após a cirurgia, porém a própria informou que não houve a
necessidade da medicação prescrita como analgésica, sendo assim, o laser de
baixa potência aplicado imediatamente após o procedimento cirúrgico foi bem
utilizado, diminuindo a dosagem de analgésico ingerido.
A paciente evoluiu bem durante o
pós-operatório, concluindo-se que apesar dos riscos iniciais, quando o
procedimento é bem indicado e todas as etapas são realizadas de maneira
cautelosa, estando ciente da dinamicidade dos tecidos da cavidade oral,
conseguimos atingir um sucesso clínico.
REFERÊNCIAS
CAMPOS, G.V; LOPES, C.J. Recursos estéticos na periodontia.
In: FONSECA, A. S. Odontologia estética: a arte da perfeição. São Paulo: Artes
Médicas, p. 615-651, 2008;
DUARTE, C. A.; LOPES, J.C.A. Cirurgia periodontal
pré-protética. In: Cirurgia periodontal: pré-protética, estética e
peri-implantar. 3. ed. São Paulo (SP): Santos, p.309- 355, 2009.
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